A primeira atividade de campo desenvolvida após a aprovação do projeto de revegetação do Parque Estadual de Ilhabela foi um curso de coleta de sementes, ministrado em novembro de 2006 por profissionais do Instituto Florestal para membros da ONG ilhabela.org e funcionários do Parque Estadual de Ilhabela. Durante dois dias pudemos começar a aprender como identificar e selecionar as matrizes _aquelas árvores que vão fornecer as sementes para nosso viveiro de mudas nativas.
Como Ilhabela acha-se separada do continente por um canal que tem entre 3 e 6 Km de largura, as espécies daqui pertencem a uma “piscina genética” diferente da vegetação do continente. Por esse motivo, para recuperer a área aos pés do Pico do Baepi, no interior do Parque Estadual de Ilhabela, o Instituto Florestal proibiu que fossem utilizadas mudas vindas de outros lugares. Assim, teremos de coletar as sementes na Ilha e produzir as mudas aqui mesmo.
No primeiro dia de curso, na parte da manhã, Flaviana Maluf de Souza, do Instituto Florestal, falou sobre a biodiversidade da floresta e detalhou os seguintes temas:
* genética e parentesco entre as plantas
* o que é uma matriz florestal
* como escolher a matrizes
* quantas espécies são necessárias para recomposição da mata
* quantas árvores de cada espécie devem ser marcadas
* escolha das espécies
* quais espécies devem ser priorizadas
* legislação sobre plantio
* coleta de sementes em unidade de conservação
* a importância da ficha de coleta
Abaixo, um vídeo com cenas das aulas de identificação e marcação de matrizes -quando encontramos e destruímos uma armadilha colocada por caçadores no interior do Parque Estadual.
No período da tarde, Renato Farinazzo Lorza deu uma aula sobre produção de mudas e ensinou técnicas de escalada e rappel adaptadas para a coleta de frutos no alto das árvores. Lorza é coordenador da Rede de Sementes Florestais Rio-São Paulo, entidade que tem a missão de aumentar a oferta de sementes nativas da Mata Atlântica, a partir da união de instituições e pessoas que atuam no setor. Depois de apresentar o equipamento de escalada, os participantes puderam fazer um breve treinamento. Abaixo, um vídeo com os “melhores momentos” do curso.
A conclusão dessa primeira aula foi de que, para atender às exigências do Instituto Florestal, seremos obrigados a identificar matrizes, coletar sementes e produzir mudas de 80 diferentes espécies de árvores, sendo que pelo menos 10% de espécies ameaçadas de extinção. Para garantir a variabilidade genética do viveiro, idealmente deveríamos encontrar 45 “indivíduos” diferentes de cada uma dessas espécies _o que eleva o número total de matrizes a serem identificadas para exatas 3.600 árvores!
O ritual da marcação de matrizes
No segundo dia de curso fomos até a trilha da Água Branca para buscar outras matrizes. Natália Macedo Ivanouskas explicou como identificar e marcar corretamente uma matriz. Seguindo esses procedimentos marcamos 5 árvores, incluindo uma espécie que está em extinção _e que segundo Joãozinho do Parque, é chamada na Ilha de Pacuri-açú. Natália ensinou ainda como fazer uma excicata, técnica de herborização que consiste em prensar um ramo da planta para posterior identificação e catálogo.
Cada vez que uma matriz é selecionada ela deve receber uma plaquinha metálica com um número de identificação. Numa planilha de controle, esse número é anotado junto com uma série de outras infomações, tais como o nome científico e popular da árvore, as coordenadas de sua localização no GPS, o diâmetro de seu tronco, a época de sua floração e, se for o caso, o estágio de amadurecimento de seus frutos. Todos esses dados devem ser repassados para o Instituto Florestal, junto com a excicata de um pequeno ramo da árvore, que ficará guardado no herbário dessa instituição. Essas medidas visam garantir o máximo controle sobre as matrizes e o combate à biopirataria.
A conclusão do segundo dia do curso foi que todas as matrizes já demarcadas em Ilhabela, localizadas fora da área do Parque, terão de ser catalogadas novamente, já que os procedimentos exigidos pelo Instituto Florestal não foram seguidos pelo viveiro da Prefeitura Municipal. As matrizes que, a partir de agora, vamos identificar dentro do Parque, vão seguir essas normas.